Tuesday, March 31, 2015

O amor e a cicatriz.

     Iniciar um relacionamento afetivo nunca é fácil, mas quando se tem cicatrizes no caminho o desafio é ainda maior, antes de conhecer a personalidade vem o julgamento da aparência, e neste caso as cicatrizes sao um grande empecilho. A sociedade, em especial a brasileira, tem um juízo muito agucado das percepcoes físicas. Nao sobra muito espaco para mostrar sua personalidade.
    Antes mesmo de te ver como pessoa, já estao te julgando como monstro deformado, sao de uma superficialidade assustadora. Até mesmo no ambiente familiar.
    Entrar na adolescência sendo portadora de cicatrizes na regiao do rosto tornou a minha vida um mar de tortura, nao foram poucas vezes que tive que lidar com conversinhas e buchichos. Entretanto, o pior é quando um garoto fala na sua cara que jamais vai querer estar ao lado de um monstro deformado como eu.
     Tive poucos relacionamentos com brasileiros, e me arrependendo até o último milímetro da minha existência por cada segundo desperdicado com eles. Depois que comecei a me relacionar com europeus e americanos descobri uma nova vida, descobri um tipo de pessoa super interessante, aqueles que se apaixonam pela sua personalidade, e isso é tao legal. Te abrem portas de uma nova dimensao da vida, na qual tudo passa a ter brilho e cor, e você se sente bela, atrativa, viva!
      Estou há mais de uma década junto com o homem com quem me casei há 6 anos atrás, e em nenhum momento minha cicatriz teve a mínima importância no nosso relacionamento, ele gostou da minha pessoa, do meu eu e isso comecou a cicatrizar e curar muitas feridas abertas que eu tinha na alma. Ele foi um presente maravilhoso, que me deu um brilho todo especial ao meu ser, que me deu coragem para tratar tanto a pele quanto a minha mente.
     Gracas a esse homem todo especial, eu tive coragem de retornar às cirurgias e tratamentos para melhorar a minha pele, nao pelo sentido estético, mas pela funcao, ele nunca quis me ver sentindo dor. Por ele, perceber que minha alma sangrava, me acompanhou e teve paciência para esperar o meu tempo para que eu voltasse à terapia, que foi fundamental no meu desenvolvimento, por isso hoje eu posso escrever. Porque muitas feridas foram fechadas. Minha alma nao sangra mais.
    O amor salva, a falta dele mata, lentamente, mas mata.


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