Wednesday, March 11, 2015

O dia do acidente

     Como já relatei anteriormente meu acidente foi dia 29 de janeiro de 1988. Fui inicialmente atendida no posto de saúde que era bem próximo à minha casa, O enfermeiros colocaram um lençol embebecido em soro fisiológico sobre as lesões e um cobertor nas minhas pernas, colocaram um respirador, assim como acionaram a ambulância dos bombeiros, que imediatamente me transportaram para o Hospital Evangélico de Curitiba, tudo muito rápido, meu acidente foi às 8 em ponto da manhã e às 8:29 eu já estava na ala de queimados. Esses profissionais salvaram a minha vida, pois o pronto atendimento é crucial nesses momentos. Os primeiros cuidados serão decisivos na manutenção da vida e no prognóstico das cicatrizes. Portanto, apenas resfrie a lesão com água corrente fria e vá imediatamente para um serviço de saúde, preferencialmente para o setor de queimados da sua cidade.

     Era um dia muito quente, e passado o choque inicial, eu me vi dando informações sobre o ocorrido para os médicos, o meu na época era o Dr. Luiz Henrique Calomeno, e fui enfaixada e colocaram soro e plasma para eu receber de forma endovenosa, acho que antibiótico também. Apesar de eu ter todas as vacinas em dia, eles me deram a antitetânica na hora. Cortaram o resto de cabelo que eu tinha, afinal estava tudo queimado, inclusive meus cílios, sobrancelha, só não queimei as unhas, minhas mãos tiveram queimaduras de 1° grau.  Tive aproximadamente 30% do meu corpo queimado, o que para uma criança representa um risco potencial de morte.

    Aqui na Alemanha, o procedimento padrão seria induzir ao coma, até mesmo para não se criar o trauma da dor, mas não foi o que eu recebi na época, espero sinceramente que isto tenha evoluído.

    Eu recordo de sentir muita sede, e a única vez que me deram um copo de água nesse dia provocou muito vômito, e com isso tiveram que trocar os curativos, logo depois disso comecei a sentir meu rosto inchando, creio que em no máximo umas 2 a 3 horas após o acidente, eu mal conseguia abrir os olhos, eu respirava com dificuldade, afinal meu nariz e vias respiratórias estavam lesadas, eu tinha um suplemento de oxigênio, mas eu ainda assim sentia muita dificuldade em respirar, e com isso começou a confusão mental, eu tinha a sensação de estar peregrinando no inferno.
     Eu acredito que perdi os sentidos por alguns momentos, eu via um abismo, e me sentia cair nele, deve ter sido a hipóxia, afinal eu não conseguia respirar direito, o inchaço era imenso, naquele dia, nem meu pai que foi ao hospital me reconheceu, meu rosto estava inteiro deformado, pois eu tive queimaduras de 2° grau na face, e virou tudo em bolha, lembro dos meus lábios grudarem uns nos outros, e as enfermeiras colocavam gazes umedecidas para evitar que a pele grudasse e com isso sangrasse.
     Na primeira noite, imagino que eu deva ter alucinado até o último grau, afinal eu tinha febre de 40C graus, o que já é suficiente para levar a estados convulsivantes, mas eu nao tive convulsão, apenas delírios. Eu gritava por socorro porque eu estava vendo a imagem da morte, aquela clássica como a da foto abaixo. Logo depois eu vi o túnel de luz, e senti como um choque uma dor horrível no peito.


   

Tive pesadelos com isso por anos a fio, e cada vez que eu ouvia a sirene dos bombeiros ou de ambulância eu tinha vontade de chorar, cada fibra do meu corpo se retesava.
    Na manhã seguinte eu sentia mais sede do que nunca, eu tinha vontade de tomar um balde de água, mas eu não podia por causa da chance de vomitar e desidratar ainda mais. Dia 30 era um sábado e o irmão do meu pai veio me visitar, ele passou direto por mim e não me reconheceu, aí quando ele parou em frente da minha cama e dava para ver a cara de espanto dele, ele ficou em completo choque, imagine um homem de uns 50 anos, que sempre foi muito reservado e frio, ficar pálido e sem palavras, a esposa dele, minha tia é que tentou contornar a situação, mas deu para perceber nitidamente o susto que eles tomaram.
    Recordo que a televisão estava ligada no Jornal Nacional e teve o sequestro de um avião da Vasp e o alvo era o palácio do governo em Brasília. Acho que foi daí que se tirou a idéia das torres gêmeas.
    Na época, eu já sonhava em vir para a Alemanha, porque eu queria esquiar e patinar no gelo, eu tinha verdadeira obsessão por inverno, e passou na tv algo que tinha um nevasca em Hamburgo, nesse minuto eu desliguei de tudo que estava acontecendo e pensei na neve e na Alemanha. Acho que isso acabou me trazendo para cá anos depois.
     Eu quero deixar um alerta, em especial aos pais, para que nunca deixem suas crianças desatendidas próximo a fontes que podem causar queimaduras, para acontecer basta um segundo, para amenizar, uma vida inteira.

      

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