Tuesday, March 10, 2015

Queimei e agora?

Quanto ocorre uma queimadura há alguns cuidados básicos a serem tomados, o primeiro é esfriar o local da lesão e dependendo da extensão e da profundidade deve-se procurar o serviços médicos da sua cidade ou região. Quanto à classificação compare com o link da wikipédia e aqui.
Agora relacionando ao grande queimado, após a internação, será importante estabilizar o paciente, para que este não venha a óbito, já que há vários riscos envolvidos nas primeiras horas.
Quando eu estava internada, nunca me esqueço que chegou uma menina que tinha 95% do corpo queimado, ela não resistiu, acabou falecendo naquela noite, embora as enfermeiras não falassem claramente, eu enquanto criança curiosa prestava atenção e percebi a movimentação, além da retirada do corpo dela da enfermaria. Foram poucas horas desde a chegada dela até o falecimento.
Esse foi um fato que me marcou, foi a primeira vez que vi alguém morrer.
Na minha época os pais não ficavam junto às crianças, e eram apenas 3 dias de visita na semana, totalizando 3 horas. O meu pai ia todas as vezes, minha mãe, que estava grávida foi apenas uma vez. Minhas tias também visitavam com freqüência. Tinham crianças lá cujos pais moravam no interior e nunca recebiam visitas, e minha família sempre dava atenção a elas. No fundo eu era uma privilegiada, pois eu recebia muitas visitas. 
Em 1988 o método de tratamento era outro, sei que muita coisa evoluiu desde então. 
O tratamento da dor naquela época era muito precário, se comparado com os dias atuais, tanto que eu sou traumatizada pela dor até hoje pela dor que passei naqueles dias. 
A troca de curativos era o inferno em vida, só de lembrar meus olhos enchem de lágrimas. Nenhuma sessão de tortura pode ser mais eficiente que aquilo. Espero que esse quesito tenha evoluído muito.
Um dos momentos felizes que eu tive foi quando eu finalmente pude fazer o enxerto de pele, que é a retirada de uma fina camada de pele, entre 1,5 e 2 mm e faz-se o recobrimento da área lesada. Quando tudo funciona nesse procedimento, a ferida se fecha no decorrer de poucos dias, e com isso a troca de curativos não é mais tão dolorosa. Além de que a ferida está a caminho de fechar e isso significa que logo pode ir para casa.
Apesar de ir para casa, não significa que acabou o tratamento, de jeito nenhum, agora é só o começo da jornada.
Por vários dias, acho que mais ou menos um mês e meio, eu tinha que ir regularmente ao ambulatório para trocar curativos e decidir os próximos passos, entre eles a malha de compressão, o colar cervical e depois um mar de cirurgias e aparelhos para as costas. Não esquecendo que após uns 2 meses depois de sair do hospital iniciou a fisioterapia e a psicologa, ambos eram no hospital pequeno príncipe, em Curitiba, todas as manhãs a Catarina, minha fisioterapêuta, me cuidava, das 9 às 10, depois eu tinha horário com a Cintia, minha psicologa. Eu fiquei no hospital pequeno príncipe fazendo fisio até eu completar 12 anos, essa era a idade limite, porque depois eu teria que ir para uma clínica de adultos. Acabei parando com o tratamento, até mesmo porque meus pais estavam muito desgastados com tudo aquilo, eles não tinham estrutura para suportar toda aquela reviravolta. 
Minha mãe deu a luz à minha irmã em maio de 1988. Portanto, não era fácil para ela ter um bebê, e uma filha que demandava tanta atenção. Aconteceu que eu acabei recebendo menos cuidados do que eu precisaria.
Eu tinha (e tenho) pesadelos, na época ninguém falava sobre estresse pós traumático, mas era exatamente o que eu tinha, e creio que a maioria dos pacientes desenvolve também.
Para crianças tem um grande agravante, o crescimento contribui imensamente para a formação de contraturas.
Um ponto muito importante, é que as pessoas sempre olham com cara de nojo para quem tem cicatrizes de queimadura, e pode ter certeza que isso não contribui em nada para quem já está numa situação dessas. 

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